Guardar a criação inteira - 5.

O peso da Encíclica no progresso global em curso
A ciência fez o seu melhor, coletando o máximo de dados possíveis, iniciando colaborações entre muitos saberes especializados, pondo em comum as competências recíprocas, chegando a uma opinião unânime e dando sugestões.
As perguntas são inúmeras. As mudanças climáticas são antropogênicas, ou seja, devidas ao homem? Ou são um processo cíclico da natureza? Ou provavelmente são causadas por ambos? E, seja qual for a causa, pode-se fazer alguma coisa? É incontestável o fato de que o nosso planeta está se aquecendo.
Com efeito, o Relatório de Síntese do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de novembro de 2014 foi muito severo. Thomas Stocker, o copresidente do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, comentou assim: "A nossa avaliação reconhece que a atmosfera e os oceanos se aqueceram, a quantidade de neve e de gelo reduziu, o nível do mar aumentou, e a concentração de dióxido de carbono atingiu um nível sem precedentes ao menos nos últimos 800 mil anos" (http://www.un.org).
Essa é a opinião unânime de mais de 800 cientistas do IPCC e representa um desafio enorme. Agora, cabe a todos, embora sendo a maioria não cientistas, tirar as conclusões e agir.
Papa Francisco, preparando a sua encíclica, enfrenta o desafio, reconhecendo adequadamente o ponto de vista científico sobre as mudanças climáticas, as suas causas e consequências, e os remédios necessários.
O líder da principal religião do mundo se valerá da sua fé, do ensinamento da Igreja e das melhores informações e dos melhores conselhos à disposição, demonstrando que é nossa tarefa recolher e avaliar informações, julgar, tomar decisões e agir.
Este é o seu objetivo: não apenas fazer especulação nem se unir a esta ou aquela teoria, mas convidar os homens de boa vontade a considerar bem as suas responsabilidades para com as gerações futuras e agir em consequência.
Os fiéis têm um motivo a mais para serem bons administradores do dom da criação, porque sabem que se trata de um dom de Deus. Não é necessário ser estudiosos do clima para cumprir as próprias responsabilidades ambientais, como fiéis que habitam a terra. O debate, depois, será bem-vindo.
Não se trata aqui de fazer campanhas para salvar algumas espécies animais ou vegetais raras – o que é importante em si mesmo –, mas assegurar que centenas de milhões de pessoas tenham água limpa para beber e ar puro para respirar.
Essa é uma grave responsabilidade moral à qual não se pode fugir. A falta de resposta seria um pecado de omissão.
O tempo da nova encíclica é significativa: 2015 é um ano decisivo. No mês de julho, as nações vão se reunir para a III Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, em Adis Abeba. No mês de setembro, aAssembleia Geral das Nações Unidas deverá encontrar um acordo sobre uma nova série de objetivos de desenvolvimento sustentável, a serem postos em prática até 2030. No mês de dezembro, a Conferência sobre as Mudanças Climáticas, em Paris, acolherá os planos e os compromissos de cada governo para retardar ou reduzir o aquecimento global.
Os meses de 2015 são cruciais, portanto, para as decisões referentes ao cuidado ou à gestão da terra e para o compromisso efetivo com o desenvolvimento internacional e o bem-estar dos homens. É por isso que o Papa Francisco afirmou ainda durante o voo para Manila: "O importante é que haja um pouco de tempo entre a saída da encíclica e o encontro de Paris, para que seja uma contribuição. O encontro no Peru não foi grande coisa. Decepcionou-me a falta de coragem".
A pergunta agora é: em que condição nos colocamos diante desses desafios da ecologia e das mudanças climáticas? Um momento negativo, alguns poderiam dizer: a avidez, a estupidez, a falta de cuidado e o orgulho do homem causaram tantos danos irreversíveis, a tal ponto que nos encontramos no limiar da autodestruição. A humanidade destrói o planeta, a sua única casa.
Mas talvez haja outro modo de olhar para o momento atual. Até pouco tempo atrás, a natureza, com as suas forças poderosas e os seus processos misteriosos, parecia estar completamente à mercê de uma família humana que lutava para sobreviver e chegar ao fim do mês. Embora isso ainda seja verdade para a maioria – a maioria vulnerável –, no entanto, no seu conjunto, a família humana é impulsionada pela crise climática a crescer e a assumir um novo tipo e um novo nível de responsabilidade.
Bento XVI falara de uma boa ocasião de discernimento e de nova projetualidade. Pela primeira vez, de modo maduro, devemos exercer uma responsabilidade comum pela Terra, a nossa casa comum.
Sentimos que é preciso repropor hoje o que a Civiltà Cattolica escrevia há um quarto de século: "Em última análise, só olhando com humildade para dentro de nós para enfrentar o lado escuro do nosso ser, é que encontraremos a coragem e os recursos para ter misericórdia para com os outros, com as gerações futuras, com a Terra e com todas as suas criaturas. Só reconhecendo e aceitando as nossas contradições e feridas, é que o nosso desejo aparentemente incontestável de poder, bem-estar e domínio perderá força pouco a pouco. Visto sob essa ótica, o problema ambiental se revela fundamentalmente um problema humano, um problema de conversão contínua e de autêntica humanização" (J. McCarthy, "A Conferência Mundial do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento", in La Civiltà Cattolica. 1992, IV, p. 560-577).
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