A Igreja não é uma "ONG verde"
Alguns discutem se a Igreja em geral e, em particular, o papa devem entrar no mérito do debate. Os mais contrários a determinadas descobertas científicas sobre as mudanças climáticas ainda parecem ser os mais favorável à contínua exploração dos combustíveis fósseis.
Poder-se-ia argumentar que o papa tem coisas mais importantes para se preocupar do que com o ambiente. A sua tarefa de pastor deveria ser – dizem – a salvação das almas. Alguns poderiam pensar que a fé é um acréscimo opcional ao compromisso ecológico, o que, aliás, é desmentido por todos os últimos pontífices: seria como que dizer que os fundamentos são um acréscimo opcional de um edifício.
De fato, é pela fé que sabemos que somos "criaturas" e não produtos acidentais ou fortuitos de forças cegas ou coincidências casuais.
Essa preocupação não transforma a Igreja em uma "ONG verde". Pelo contrário, devemos repetir com o Concílio que, nos nossos dias, a humanidade "levanta ansiosas questões sobre a atual evolução do mundo, sobre o lugar e sobre a tarefa do homem no universo, sobre o sentido dos próprios esforços individuais e coletivos, e ainda sobre o fim último das coisas e dos homens" (Gaudium et spes, n. 3).
Por isso, é preciso instaurar um "diálogo sobre esses vários problemas, aportando a luz do Evangelho e pondo à disposição do gênero humano as energias de salvação que a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, recebe do seu Fundador. Trata-se, com efeito, de salvar a pessoa do homem e de edificar a sociedade humana" (ibid).
A preocupação com a ecologia humana e ambiental mostra uma dimensão fundamental da fé, da forma como é vivida hoje para a salvação do homem e para a construção da vida social. Delineia-se, portanto, como parte da doutrina social da Igreja.
Por isso, hoje, chegou o momento de ter uma Carta Encíclica inteira – e não mais apenas alguns parágrafos dela – sobre o tema ecológico.
Hoje, sabemos muitas coisas sobre o ambiente. Foram realizadas muitas pesquisas. E, mesmo que não estejamos de acordo sobre alguns resultados, a poluição dos rios e dos lagos, as monoculturas que destroem a terra e os meios de subsistência, a morte de tantas espécies causada pelo progresso humano são todas coisas evidentes, que precisam de uma atenção específica dos fiéis. Todas essas análises devem ser vistas pelo fiel em uma perspectiva cristã.
Na realidade, depois da Mensagem de 1990 de São João Paulo II, a questão não é mais se os católicos devem abordar questões de ecologia em uma perspectiva de fé. A verdadeira pergunta feita por todas as sociedades, incluindo as comunidades cristãs, é sobre o como se deveria fazer isso.
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