Em busca das implicações ecológicas da nossa fé
Nunca antes de hoje, na história, o Santo Padre e a Igreja tiveram um peso tão relevante em um processo global tão vasto em curso. Mais em geral, é verdade que hoje "a religião – como disse o Patriarca Bartolomeu, entrevistado pela nossa revista – provavelmente seja a força mais pervasiva e poderosa da Terra. De fato, a fé não só desempenha um papel fundamental na vida pessoal de cada um de nós, mas também desempenha um papel fundamental como força de mobilização social e institucional" (A. Spadaro, "Entrevista com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I", in La Civiltà Cattolica, 2015, II, p. 3-16).
Por isso, a ecologia é um tema profundamente ecumênico (ibid, p. 11s), mas também inter-religioso, como o próprio pontífice reconheceu no voo para Manila, no dia 15 de janeiro de 2015.
No fim da Cúpula do Rio de 1992, a nossa revista já afirmava a importância espiritual e religiosa do tema ecológico: "Os recursos espirituais da humanidade são múltiplos e profundamente enraizados. Apenas sondando corajosamente a riqueza das tradições religiosas de cada sociedade, é que a humanidade pode esperar alcançar a compreensão e a visão moral e religiosa para avançar realmente juntos no caminho comum da salvação da Terra e da humanidade. Será uma aventura comum, enquanto nos preparamos para a corajosa tarefa de nos interrogarmos de maneira crítica em busca das implicações ecológicas da nossa fé" (J. McCarthy, "A Conferência Mundial do Rio...", op. cit.).
Essa abordagem espiritual e religiosa (cf. G. Salvini, "Ciência e religião diante do ambiente", in La Civiltà Cattolica, 2002, III, p. 151-163) vale radicalmente para os cristãos. Na missa, no momento da apresentação das ofertas, o celebrante diz: "Bendito sejais, Senhor, Deus do Universo, pelo pão que recebemos da vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano: que agora vos apresentamos e que para nós se vai tornar Pão da vida".
Essa oração familiar expressa as relações dinâmicas em que vivemos e agimos, recebemos e damos, rezamos e trabalhamos. Nessas palavras, encontramos o universo inteiro, a terra fecunda e um pouco de pão, a generosidade de Deus e a obra do homem e a nossa oferta.
Para o fiel, o nosso ambiente é um "ambiente divino", isto é, um mundo interpretado como lugar de união com Deus, compreendido cristicamente e vivido em nível de fé. É preciso redescobrir uma "visão eucarística do mundo" no modo como é proposta, por exemplo, pelo Metropolita de Pérgamo (cf. I. Zizioulas, Il creato come eucaristia. Approccio teologico al problema dell’ecologia. Magnano: Qiqajon, 1994).
O empenho do Papa Francisco nos impulsiona a uma espiritualidade ecológica, a uma vida espiritual e sacramental que não seja alheia ao fato de que habitamos a criação.
Esperando pela Carta Encíclica do Papa Francisco, sustente-nos o fato de saber que "o Espírito age em cada um dos elementos do cosmos, preenche todo o Universo com a glória e a energia de Deus, e anima os nossos corações com o entusiasmo por tudo o que é criativo, bom, justo e nobre" (The Churches Responsibility [A Responsabilidade das Igrejas], Carta do Conselho Ecumênico das Igrejas, 1992).
La Civiltà Cattolica