Bento XVI: discernimento e projetualidade
O Papa Ratzinger foi muitas vezes definido como "o primeiro papa verde" (cfr., por exemplo, National Geographic, 28 de fevereiro de 2013), por ele ter assumido muitas reivindicações ambientais e ecológicas herdadas do seu antecessor e, depois, desenvolvendo-as ainda mais.
Na sua Mensagem para o XL Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2007), ele retoma e consolida o trinômio inseparável entre "ecologia da natureza", "ecologia humana" e "ecologia social". É muito forte, na sua mensagem, o vínculo entre a questão ecológica e o fato de que, em algumas regiões do planeta, ainda se vivem condições de grande atraso, em que o desenvolvimento está praticamente bloqueado, também por causa do aumento dos preços da energia.
O papa pergunta: "Que será dessas populações? Que tipo de desenvolvimento ou de não desenvolvimento lhes será imposto pela escassez de reabastecimento energético? Que injustiças e antagonismos provocará a corrida às fontes de energia? E como reagirão os excluídos dessa corrida?".
O mesmo tom interrogativo seria usado pelo Papa Bento XVI na sua Mensagem para o XLIII Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2010): "Como ficar indiferente diante das problemáticas que derivam de fenômenos como as mudanças climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de eventos naturais extremos, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como ignorar o fenômeno o crescente dos chamados 'prófugos ambientais', ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se veem obrigadas a abandoná-lo – muitas vezes junto com os seus bens – para enfrentar os perigos e as incógnitas de um deslocamento forçado? Com não reagir diante dos conflitos já em ato ou dos potenciais ligados ao acesso aos recursos naturais?".
Essas perguntas do "papa verde" – que já poderiam, por si sós, constituir uma lista de temas a serem abordados – têm um profundo impacto sobre o exercício dos direitos humanos, como o direito à vida, à alimentação, à saúde e ao desenvolvimento.
Certamente, a encíclica Caritas in Veritate (CV) (29 de junho de 2009) foi uma etapa fundamental do seu pensamento "verde", que reuniu inúmeros âmbitos: o ecológico, o jurídico, o econômico, o político, o cultural (cfr. CV 48).
De fato, "a natureza, especialmente no nosso tempo, está tão integrada nas dinâmicas sociais e culturais que quase já não constitui uma variável independente" (CV 51).
Bento XVI advertiu contra a posse dos recursos energéticos não renováveis e relembrou a urgência de uma solidariedade que leve a "uma redistribuição mundial dos recursos energéticos, de modo que os próprios países desprovidos possam ter acesso a eles" (CV 49).
Eis o seu apelo: "Há espaço para todos nesta nossa terra: nela, a família humana inteira deve encontrar os recursos necessários para viver dignamente, com a ajuda da própria natureza, dom de Deus aos seus filhos, e com o empenho do próprio trabalho e da própria criatividade" (CV 50).
Na Audiência Geral do dia 26 de agosto de 2009, Bento XVI reiterou que "a proteção do ambiente, a tutela dos recursos e do clima requerem que os responsáveis internacionais atuem conjuntamente no respeito à lei e da solidariedade, sobretudo em relação às regiões mais frágeis da terra".
Portanto, "é indispensável converter o atual modelo de desenvolvimento global para uma maior e compartilhada assunção de responsabilidade em relação à criação: isso é exigido não só pelas emergências ambientais, mas também pelo escândalo da fome e da miséria".
A proposta do papa é de fazer com que a atual crise se torne "ocasião para discernimento e de nova projetualidade" (CV 21). A própria técnica deve ser considerada como aliada, porque manifesta as aspirações humanas ao desenvolvimento e à gradual superação de certos condicionamentos materiais, inserindo-se no comando de "cultivar e guardar a terra que Deus confiou ao homem" (CV 69).
Bento XVI reiterou que a questão ecológica diz respeito aos cristãos justamente como pessoas de fé e à Igreja como tal: "A Igreja tem uma responsabilidade pela criação e deve fazer valer essa responsabilidade também em público. E, ao fazer isso, deve defender a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos. Deve proteger o homem contra a destruição de si mesmo" (CV 61).
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