Pensamentos sobre o Sacerdócio III

Vamos adiante! Qual é o núcleo do serviço do sacerdote? Qual é o núcleo de suas atividades nas coisas que se referem a Deus? A resposta é surpreendente: “para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”. Para desgosto de muitos teólogos e de muitos pastoralistas compulsivos, o cerne da missão sacerdotal é oferecer sacrifícios pelos pecados. Na perspectiva do Novo Testamento, o sacrifício por excelência, que sintetiza e cumpre todos os outros, é o sacrifício pascal de Cristo, tornado sacramentalmente presente em cada Eucaristia. Estando assim as coisas, podemos afirmar sem medo de errar que o padre é sacerdote para o Altar, para o sacrifício eucarístico! Aqui se dá sua maior e mais intensa identificação com o Cristo Sumo e Eterno Sacerdote; aqui o eu do padre é assumido pelo eu de Cristo de um modo misterioso, intenso e real! Mas, engana-se que reduz o sacrifício eucarístico ao Altar. É exatamente por oferecer com o povo e em nome do povo o sacrifício da Missa, que o sacerdote deve fazer da própria vida uma continuação do que celebrou no Altar. É toda a sua vida que se torna uma libação, como dizia São Paulo da sua própria existência de ministro do Evangelho. Porque oferece o sacrifício da Missa, o sacerdote vai se configurando com Cristo Sacerdote em toda a sua existência, fazendo de toda a vida, como o seu Senhor, uma pró-existência. Assim, a oferta celebrada no Altar espraia-se por toda a vida e atividade do sacerdote, de modo que ele se oferece em Cristo e com Cristo nas diversas atividades pastorais, na oração, na celebração dos santos sacramentos, no aconselhamento, na pregação da Palavra, na promoção humana do seu rebanho. Tudo se torna sacerdotal, mais ainda, torna-se sacerdotalizado! Portanto, se o padre não colocar no centro de sua vida e atividade o Altar, ele perde o foco e priva suas diversas atividades e os diversos aspectos de sua existência de um eixo que dá sentido, eficácia e realização à sua existência como cristão e como padre. 
Exatamente este estar com Cristo e, em Cristo, diante do Pai em cada Eucaristia, faz com que o sacerdote tenha muito claro que ele não é melhor que ninguém; é apenas um pobre homem, um pobre cristão, vaso de eleição e vaso de argila. Esta experiência dá-lhe entranhas de misericórdia e um sentido pastoral - melhor ainda, uma paternidade pastoral – que supera qualquer ideologia de idolatria do povo e da comunidade... Daí a afirmação da Escritura: “Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo quanto pelos seus próprios”. Belíssimas estas afirmações! Toda compaixão, toda caridade pastoral do padre nascem desse estar diante de Deus com Cristo na Celebração eucarística. É aí que o sacerdote se descobre ministro pobre e pecador de um povo pobre e pecador, mas inundado pela misericórdia de Deus! O zelo pastoral nada tem a ver como fogo ideológico de esquerda, nada tem em comum com a idolatria de um ativismo pastoral que endeusa a comunidade, nada tem em comum com a mania de pastoral ou “pastoralite” crônica... A atividade do padre é intensa e fecunda, mas não massificante, inquieta, tensa e panfletária... Ela é serena e alimentada por uma contínua mística de profunda união com Cristo, o Sacerdote eterno, que se oferece humildemente com toda a sua existência ao Pai por nós. 

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