Caros amigos, um interessante artigo que nos refletir sobre o nosso "possível" esquecimento de algumas atitudes do Pontificado do papa humilde... Não precisa concordar com o autor, apenas para fazer pensar.
No intenso debate (algum auto-referencial) sobre a continuidade-descontinuidade entre os Papas Bento XVI e Francisco, no desejo de contrapor, de sublinhar cada diversidade de estilo ou de acento, tem o risco de terminar apresentando uma caricatura dos protagonistas. O fenômeno termina “engavetando”, em um modelo artificial, especialmente a rica figura do Papa Ratzinger, como se todo o seu magistério fosse identificado com a extenuante e repetitiva defesa dos “princípios não-negociáveis” no espaço público.
Na sua primeira viagem internacional, encontrando os jovens da JMJ de Colônia, no verão de 2005, Bento XVI escolheu de não falar da castidade, das relações pré-matrimoniais, etc., etc., concentrando-se no anúncio da beleza de ser cristão. Um ano depois, alguma coisa de semelhante aconteceu durante a sua viagem na Espanha, que se tornou berço do “relativismo zapateriano”, pátria do casamento gay. Bento XVI foi encontrar as famílias do mundo inteiro em Valência para testemunhar a beleza das suas experiências, e escolheu não se contrapor ao governo espanhol e não pronunciar condenações, preferiu falar positivamente.
Ainda se pode trazer à memória a corajosa e evangélica resposta do mesmo Papa Ratzinger no meio do furação do escândalo da pedofilia quando, ao invés de apontar o dedo contra os inimigos externos, disse (em 2010) que a perseguição maior da Igreja não vem do seu externo, mas do interno, do pecado interno da Igreja. Então, exatamente aos jornais que hoje levantam a bandeira “ratinzgeriana”, essa atitude não agrada. E a “Igreja penitencial” de Bento XVI se torna um slogan para assinalar a saudade das mais fortes defesas de posições em público.
Se pode ainda citar as palavras, passadas sob interessado silêncio, que Bento XVI pronunciou em Friburgo no ano de 2011, na sua última viagem na Alemanha como Papa reinante, quando falou de uma “Igreja satisfeita de si mesma, que se acomoda a esse mundo, é autossuficiente e de adapta aos critério do mundo. Uma Igreja que muitas vezes dá à organização e a institucionalização uma importância maior do que ao seu chamado a ser aberta na direção de Deus e a abrir o mundo na direção do próximo”. Uma Igreja que deveria liberar-se “dos fardos e dos privilégio materiais e políticos”, para “se dedicar melhor e em modo verdadeiramente cristão ao mundo inteiro” e ser “verdadeiramente aberta ao mundo”.
E o que dizer, enfim, de duas outras linhas do magistério ratzingeriano, esquecidas ou manipulados? A primeira é representado pelas suas palavras contra o carreirismo eclesiástico (e aqui cada um pode tirar as próprias conclusões sobre o quanto foram levadas a sério). A segunda é aquela que diz respeito à liturgia. Com o motu próprio “Summorum Pontificum” Bento XVI queria favorecer a reconciliação entre a maioria absoluta dos fiéis que seguem o rito romano ordinário e os poucos que permaneceram ligados à Missa antiga. Queria favorecer o enriquecimento recíproco entre os dois modos de celebrar. A sua mensagem foi muitas vezes ignorada e ao invés de reconciliar ou enriquecer reciprocamente, a liberação terminou polarizando e muitas vezes dividindo.
Precisaria, portanto, dar mais atenção, para não reduzir Papa Ratzinger, para não esmagar a riqueza do seu magistério, fazendo-o coincidir com certas gaiolas ideológicas, para não fechá-lo em um esquema pré-concebido. Por fim, é exemplar o que aconteceu em Novembro de 2010, quando uma resposta minimamente “aberturística” sobre o preservativo contida no livro-entrevista com Peter Seewald, “Luz do mundo”, provocou a forte reação dos guardiões da ética sexual, prontos para ensinar, com as suas “erudições de doutrina”, também a Ratzinger como ser verdadeiramente um “ratzingeriano”.
Andrea Tornicelli