Eis aqui uma belíssima invocação a Deus, feita pelo grande Santo Agostinho, Bispo de Hipona, no século V:

Ó Deus, Criador de todas as coisas!
Deus, que não és o autor do mal,
mas que permites que ele suceda a fim de prevenir mal maior;
Deus, graças a quem o universo é perfeito
mesmo com seus elementos discordantes,
Deus, cujas obras, até as mais ínfimas, não possuem dissonância alguma
– porque aquilo que parece imperfeito se harmoniza com o melhor;
Deus, amado por tudo o que, conscientemente ou inconscientemente, pode chegar a amar;
Deus, que tudo conténs e, contudo, nenhuma diminuição sofres da ignomínia da criatura,
nenhum prejuízo de sua malícia e nenhum logro de seus erros!
É a ti que eu invoco, ó Deus-Verdade,
em quem, de quem e por quem, é verdadeiro tudo o que é verdadeiro;
Deus, de quem não se pode separar sem cair,
a quem não se retorna sem se reerguer;
permanecer em ti é ter sólido apoio,
afastar-se de ti é morrer,
retornar a ti é reviver,
habitar em ti é viver...
Deus, a quem ninguém perde, a não ser enganado,
que ninguém procura, sem prévio chamado,
a quem ninguém encontra, sem primeiro ter sido purificado;
Deus, cujo abandono equivale à morte,
a procura, ao amor,
a visão, à plena posse!
Deus, a quem a fé nos impele,
a esperança nos orienta,
e com quem a caridade no une!

Deus, a quem devemos o não nos perder completamente;
Deus, que nos admoestas à vigilância;
Deus, graças a quem logramos distinguir o bem do mal;
Deus, graças a quem fugimos do mal e buscamos o bem;
Deus, graças a quem não cedemos ante a adversidade;
Deus, que fazes com que nos convertamos a ti;
Deus, que nos despojas daquilo que não é para nos revesti daquilo que é;
Deus, que nos reconduzes ao bom caminho;
Deus, que nos diriges até a porta;
Deus, que fazes com que ela se abra aos que batem:
Sê-nos propício, ó meu Deus!