A Celebração eucarística é o lugar, o momento, a ocasião em que a Igreja aparece de modo mais completo e verdadeiro. Ali, o Povo de Deus, reunido para escutar a Palavra e com fé responder o “Amém”, oferece ao Pai com Cristo o sacrifício perfeito e santo e, comungando no mesmo Corpo do Senhor, torna-se também ele corpo do Senhor. Na Celebração, este corpo de Cristo que é a Igreja aparece todo unido e todo articulado num só Espírito Santo, mas também diversificado nos seus vários membros, com seus carismas e ministérios. Assim, Unir-se na comunhão com o Corpo eucarístico de Cristo nos compromete a construir o seu corpo que é a Igreja, cada um segundo o dom que a graça de Cristo lhe concedeu. Da Eucaristia, portanto, brotam e na Eucaristia encontram lugar e sentido os diversos carismas e ministérios para a edificação do corpo de Cristo.
É verdade que na sua realidade mais fundamental, a Igreja é um corpo de iguais, pois, pelo Batismo, todos têm a comum dignidade de filhos de Deus, chamados a viver o Evangelho na caridade e a testemunhá-lo diante do mundo pela palavra e pela vida. Mas, também é verdade que, no interior desse corpo, há diversidade de ministérios e carismas. A primeira grande diferenciação que aparece na Celebração é aquela entre os ministros ordenados, marcados pelo sacramento da Ordem e os demais membros do povo de Deus. Assim exprime-se o Papa João Paulo: “Como ensina o Concílio Vaticano II, os fiéis por sua parte concorrem para a oblação da Eucaristia, em virtude do seu sacerdócio real, mas é o sacerdote ministerial que realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo. Por isso se prescreve no Missal Romano que seja unicamente o sacerdote a recitar a oração eucarística, enquanto o povo se lhe associa com fé e em silêncio. A afirmação, várias vezes feita no Concílio Vaticano II, de que o sacerdote ministerial realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo (in persona Christi), estava já bem radicada no magistério pontifício. Como já tive oportunidade de esclarecer noutras ocasiões, a expressão in persona Christi quer dizer algo mais do que em nome, ou então “nas vezes” de Cristo. “In persona”, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém. Na economia de salvação escolhida por Cristo, o ministério dos sacerdotes que receberam o sacramento da Ordem manifesta que a Eucaristia, por eles celebrada, é um dom que supera radicalmente o poder da assembléia e, em todo o caso, é insubstituível para ligar validamente a consagração eucarística ao sacrifício da cruz e à Última Ceia” (Ecclesia de Eucharistia, 28s). É todo o povo de Deus reunido para a Eucaristia quem celebra, como povo sacerdotal, inserido no corpo eclesial de Cristo. Mas, é o sacerdócio ministerial que coloca o povo sacerdotal em condição de oferecer o Santo Sacrifício. Assim, com a unção do Espírito recebida não da assembléia, mas do próprio Senhor, pelo sacramento da Ordem, os ministros sagrados têm a capacidade de oferecer a Eucaristia pela Igreja e pelo mundo inteiro. Já o povo sacerdotal, corpo do Senhor, que é a Igreja, participa dessa oferta trazendo ao Altar seu sacrifício espiritual, isto é, uma existência vivida na potência do Santo Espírito, feita de lutas, lágrimas, alegrias e tristezas, de virtudes e esperanças. Tudo isso é oferecido com o Cristo pelo mundo inteiro.
Ora, esta participação de todos a todos compromete na edificação da Igreja e na construção do Reino de Deus neste mundo. Seja como ministro ordenado, leigo no mundo nas suas verias profissões, estados de vida ou ocupações, religiosos consagrados pelos votos, todos devemos com nossa vida e ação edificar o corpo do Senhor. Como todos participam da Eucaristia, todos têm o dever sagrado de assumir seu papel de batizado e crismado, assumindo sua parte de responsabilidade na edificação do Reino de Deus. Seja solteiro, seja casado, seja religioso, seja secular, ninguém está dispensado de assumir seu serviço, isto é, seu ministério, na Igreja em favor do mundo.
Assim, a partir da Eucaristia celebrada por todos, aparece claramente que a Igreja é uma comunidade toda ministerial, isto é, toda formada por gente chamada a servir, como Cristo, que veio para servir, e na Eucaristia torna sempre presente o memorial de sua vida dada por nós e pelo mundo inteiro como serviço de amor. Esta realidade é muito bem expressa nos próprios textos litúrgicos, quando se reza pelo Papa, o Bispo local, o Episcopado em geral, os ministros ordenados, todo o povo de Deus “e todos aqueles que vos procuram de coração sincero” (Oração Eucarística IV).