Dos Sermões de Santo Agostinho (354-430), Bispo e doutor da Igreja:
Como é que Cristo veio? Apareceu como homem. Porque Ele era homem quase ao ponto de Deus estar escondido nele, foi enviado à sua frente um homem notável, para obrigar a reconhecer que Ele, Cristo, era mais do que um homem.
Quem era ele, esse que, assim, devia dar testemunho da Luz? Um ser notável, este João, um homem de um alto mérito, de uma graça eminente, de uma grande elevação. Admira-o, mas como se admira uma montanha: a montanha fica nas trevas até que a luz venha envolvê-la: «este homem não era a Luz». Não tomes a montanha pela luz; não vás quebrar-te contra ela, muito longe de aí encontrares socorro.
E o que devemos, então, admirar? A montanha, mas como montanha. Eleva-te até àquele que ilumina esta montanha que se ergueu para ser a primeira a receber os raios do sol, a fim de os reenviar para os teus olhos... Dos nossos olhos se diz também que são luz; e contudo, se não se acender a lâmpada à noite, ou o sol não nascer durante o dia, os nossos olhos abrem-se em vão. João foi também trevas antes de ser iluminado; só se tornou luz por essa iluminação. Se não tivesse recebido os raios da Luz, teria ficado nas trevas como os outros.
E a própria luz, onde está ela? « A Luz verdadeira que ilumina cada homem ao vir a este mundo»? (Jo 1,9). Se ilumina cada homem, iluminava também João, através de quem se queria manifestar... vinha para inteligências enfermas, para corações feridos, para almas com olhos doentes..., gente incapaz de O ver diretamente.
Ela cobriu João com os seus raios. Proclamando que ele próprio fora iluminado, João deu a conhecer Aquele que ilumina, Aquele que aclara, Aquele que é a fonte de todos os dons.