Caros
amigos, é a Solenidade de Cristo Rei do Universo. No Ofício de Leituras da solenidade encontramos a leitura do Opúsculo dobre a oração,
de Orígenes, presbítero (Séc. III). Excelente Domingo de Cristo de Rei.
O Reino
de Deus, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, não
vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus
está dentro de nós (cf.
Lc 16,21), pois a palavra está muito próxima de
nossa boca e em nosso coração (cf.
Rm 10,8). Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do
reino de Deus pede - justamente por ter em si um início deste reino - que ele desponte,
dê frutos e chegue à perfeição.
Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis
espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está
presente o Pai e, junto com o Pai reina Cristo na pessoa perfeita, segundo
as palavras: Viremos a ele e nele faremos
nossa morada (Jo
14,23).
Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso
contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo
Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o
reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos(cf. 1 Cor
15,24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz
divino; e digamos a nosso Pai que está nos Céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6,9-10).
É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma
que não há participação da justiça com a iniqüidade
nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial. (cf. 2 Cor 6,14-15), assim o
reino de Deus não pode substituir junto com o reino do pecado.
Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12),
mas mortificaremos nossos membros que estão na terra (cf. C1 3,5) e produzamos fruto
no Espírito. Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só
ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente à destra de sua
virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos
todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo
de seus pés (S1
98,5), lançados fora todo principado, potestade e virtude.
Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1 Cor 15,26). E Cristo diga também dentro de nós:
Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória? (1
Cor 15,55;cf. Os 13,14). Já agora, portanto, o corruptível
em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1 Cor 15,54), para
que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição.