A Igreja

Caro Visitante, eis algumas reflexões do teólogo Joseph Ratzinger, nosso querido Bento XVI. Foram feitas em 1973, mas são tão atuais...



A Igreja é força na fraqueza, uma mistura de fracassos humanos e de misericórdia divina. Pertence, portanto, à essência da Igreja o fato de constituir uma união de divino e humano, de riqueza e pobreza, de claro e escuro.

A fé nos mostra a Igreja precisamente como expressão, manchada pelo pecado, pela misericórdia divina, pela solidariedade de Deus para com os pecadores. Ela, por um lado, é degradada por todo tipo de fracasso humano, mas, por outro, permanece intacto e operante algo que vêm de Deus e dá ao homem esperança e salvação.

Ao lado da história da Igreja dos escândalos, que hoje é tão fortemente inculcada, existe todavia também a outra história da Igreja, que é uma história da esperança, um rastro luminoso, que começando por Jesus, atravessa os séculos, às vezes mais claro, às vezes mais sutil, mas jamais desaparecido totalmente.

Mais ainda. O homem não vive somente de pão. Quem é tão saciado e pode fazer tudo quanto deseja percebe logo como tudo isto é muito pouco. O homem não se pode salvar com pão e dinheiro. O homem precisa da mente não menos que de pão. A Igreja deu aos homens, em todos os séculos, uma consciência da sua íntima dignidade, que ninguém poderia arrancar deles; deu-lhes a esperança da fé, uma idéia que os fez ricos e livres. Com o dinheiro pode-se comprar muitas coisas, mas não o espírito de desapego e de altruísmo. Na Igreja existe a constante obscuridade de um grave fracasso humano, porém nela existe também uma esperança, da qual o homem tem necessidade para poder viver.

Poder-se-ia comparar a Igreja a um terreno frutuoso, no qual, quando é bem cuidado, cresce o melhor grão; mas que pode também tornar-se, se deixado à toa, uma safra de toda espécie de ervas daninhas. Ela é uma plantação de Deus, como diz a fé, mas confiada em medida muito grande também às nossas mãos.

Na Igreja, efetivamente, são conservadas as fontes de energia espiritual da vida humana, sem a qual a vida se esvazia e a sociedade cai na ruína. Ela não pode ser salva somente com a inteligência técnica, porque esta coloca à disposição novas possibilidades produtivas e, ao mesmo tempo, novas possibilidades de destruição. Se ao mesmo tempo em que é promovida a inteligência técnica forem secando as reservas espirituais da humanidade, então esta estará exposta à autodestruição. A sociedade tem necessidade de um contexto significativo, que dê a força de servir, que crie uma liberdade interior para o mundo e dê assim a capacidade de viver e agir prescindindo de si próprio, porque a esperança do homem possui um motivo mais profundo que aquele que sustenta a própria carreira exterior. Nada disso, porém, consegue manter-se por muito tempo sem a robustez de uma fé viva no desapego por si mesmo.

Por isso também hoje e exatamente hoje o serviço à fé é uma necessidade essencial para o homem. O técnico que luta à procura de novas possibilidades de sobrevivência material e o crente que está ao serviço da fé e procura novos caminhos de sobrevivência espiritual, trabalham em dois campos por um único objetivo comum... (Do livro Dogma e pregação)

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