Caros amigos, começaremos uma série de reflexões sobre a Santa Missa... trata-se de artigos de dom Henrique Soares. Boa leitura...
A liturgia é o centro da vida da Igreja. É o seu centro porque é celebração do mistério do Cristo morto e ressuscitado que, pela sua Páscoa, continuamente nos dá a vida plena, vida em abundância. Quando a Igreja celebra os santos mistérios e, sobretudo, a Eucaristia, é a própria vida que brota do Pai pelo Filho no Espírito Santo que ela recebe, a vida de Deus, vida que renova o mundo, redime do pecado, transfigura a vida, faz-nos experimentar a eternidade e nos dá força e inspiração para testemunhar o Reino que Jesus inaugurou. Sem liturgia não haveria Igreja; haveria somente uma ONG encarregada de recordar Jesus de Nazaré, promover boas obras sociais e filantrópicas e nos ensinar um moralismo capenga: devemos ser bonzinhos, devemos ser justos, devemos ser certinhos... É na liturgia que a Palavra de Deus faz-se sempre atual e a Páscoa do Senhor acontece no nosso aqui e no nosso agora, fazendo-nos comungar com as coisas do céu, dando novo sabor às coisas da terra e desvelando o sentido pleno da nossa existência e da existência de todas as coisas.
Diz a Igreja que “a liturgia é o exercício do múnus (= da tarefa, do serviço) sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros” (SC 7). Trocando em miúdos: a liturgia não é primeiramente ação da Igreja, ação do homem; é ação de Cristo morto e ressuscitado na potência do Espírito. Nada que o homem faça iguala em santidade ou eficácia a ação litúrgica. Outra coisa: a liturgia, sendo ação de Cristo no Espírito é perfeita glorificação do Pai e santificação da humanidade; e isso através de sinais e gestos deste mundo: água, fogo, pão, vinho, óleo... Sendo ação de Cristo cabeça da Igreja, a liturgia é também ação do Corpo de Cristo, que é a comunidade dos batizados.
É necessário compreender que a liturgia é rito, rito religioso. Rito não se inventa, não se cria. Jesus celebrou cumpria fielmente os ritos judaicos... O belo do rito é que ele tem a sua função e a sua força precisamente na repetição. Quando um cristão vai à missa, vai para celebrar a páscoa de Cristo, tornada presente no seu sacrifício, celebrado e oferecido em nosso altares. Um católico não vai à missa esperando novidades ou criatividades do padre, não vai ver o show do sacerdote nem a euforia da comunidade. Não se vai à missa perguntando: “O que teremos hoje de novidade, de teatro, de dramatizações, de palmas?” A novidade é e será sempre Cristo, oferecido em sacrifício e dado em comunhão para o louvor de Deus e para a vida do mundo! Vai-se à missa sabendo-se exatamente que ritos, que palavras, que gestos, lá serão encontrados – e é aí que cada um traz sua vida, suas esperanças, suas tristezas, desafios e preocupações para colocar no coração de Deus. O que é lindo numa celebração é que, exatamente pelo respeito às normas, todos podem aí se encontrar na paz do Mistério de Deus: quem está triste ou alegre, quem vai suplicar ou agradecer, quem se sente sereno ou angustiado; todos, na comunhão do rito, colocam-se diante de Deus, que vem misericordiosamente ao nosso encontro. Assim, o rito litúrgico torna-se ambiente de paz, de encontro com Deus no seu Mistério, que renova a vida, dá sentido à existência e nos enche daquela plenitude que só Deus pode nos conceder. E o rito cristão é real porque, tendo sido instituído pelo Senhor ao ritualizar na Última Ceia o seu mistério pascal, foi desenvolvido no seio da Igreja e da fé da Igreja, geração após geração e é pleno do Santo Espírito, que torna presente no aqui em o agora da nossa vida ação salvífica de Deus através de Jesus Cristo. Então, a liturgia é sagrada, a liturgia é santa, a liturgia antes de ser nossa, é de Deus, antes de ser desta comunidade é da Igreja toda e de todos os tempos!