Eis aqui, caro Internauta, para sua meditação, este texto das Homilias de São Severo de Antioquia, bispo. Um bom final de semana!
Faze isso, disse Jesus, e viverás (Lc 10, 28). Mas o doutor da lei, a pretexto de instruir-se, procura uma segunda vez colocar Jesus em dificuldade. “Quem deve ser considerado como o próximo que a Lei ordena a todo homem amar como a si mesmo?”
Nosso Salvador respondeu-lhe então sob a forma de parábola: “Um homem ia de uma cidade a outra. Bandidos atacam-no e o dominam. Despojado de suas vestes, coberto de feridas, ele jaz semimorto. Um sacerdote vê o homem, mas desvia-se e passa adiante. Um levita também o vê, mas não lhe presta nenhum socorro; impassível e insensível, não se detém diante daquele espetáculo, capaz, no entanto, de despertar uma compaixão sem limites. Ora, um samaritano em viagem chega perto dele, e olha atentamente, não só com os olhos, mas também com a misericórdia do seu coração, esse homem estendido por terra. Ajoelha-se junto dele, cuida das suas chagas derramando nelas vinho e óleo, e põe-lhe as ataduras necessárias. Em seguida, coloca-o sobre um jumento para conduzi-lo a uma hospedaria, onde o faz tratarem com todo o cuidado”.
Dize-me agora, doutor da Lei, sem fitar-me com olhos maus e perscrutadores, quem é para ti o próximo, senão aquele que se tornou tal justamente porque tinha necessidade de ser bem tratado? Tu, com efeito, pensas sempre, em tua ignorância, que o próximo é apenas o teu correligionário ou o teu compatriota. Mas eu digo e defino que o próximo é todo homem, todo ser que participa da mesma natureza humana. Como vês, aquele que mantinha a cabeça erguida por causa de sua pose sacerdotal, e aquele que se gabava de seu título de levita e desempenhava as funções sagradas do ministério sacerdotal segundo a Lei, todos os dois se gloriavam, como tu, de conhecer os mandamentos divinos. Contudo, não lhes ocorreu sequer que aquele irmão de raça que jazia ali, nu, coberto de feridas e agonizante, fosse um homem como eles; abandonaram-no como se fosse uma pedra ou um pedaço de pau.
Mas o samaritano reconheceu a natureza humana e compreendeu quem é o próximo, mesmo não conhecendo os mandamentos da Lei e sendo considerado por vós como um insensato e ignorante, segundo a palavra do próprio sábio: Os que habitam na montanha da Samaria, o povo insensato que habita em Siquém (Eclo 50,28). Assim, aquele que considerais como tão afastado, tornou-se tão próximo do que tinha necessidade de socorro. Não restrinjas, portanto, numa tal estreiteza e em mesquinhas medidas, a definição do próximo, julgando que só os parentes, os de tua raça, como diz o profeta Isaías, sejam teu próximo; porque o próximo é toda pessoa à qual se estende o nosso espírito de caridade!
